CENA HÍBRIDA – SEG 26SET – COM JULIO ZANOTTA
Nesta segunda-feira, recebemos o dramaturgo, contista e romancista gaúcho Julio Zanotta, que recentemente lançou uma coletânea de obras teatrais com dez volumes, lançada pela Editora Giostri, de São Paulo. O evento ocorreu no Centro Municipal de Cultural e contou sessão de autógrafos, duas exposições de fotos e recortes de jornais, e performance de uma das peças curtas do artista, Hino à Bandeira Com Galinha ao Molho Pardo, encenada pelo ator João de Ricardo, ao som do piano de Rodrigo Fernandez.
Somando mais de 50 peças escritas e 20 já encenadas, nosso entrevistado pode ser considerado um potente exemplar do movimento pós-pornô realizado no Brasil, através da linguagem teatral. São dele as peças das montagens Lua de Mel em Buenos Aires, A Mulher Crucificada e O Beijo da Besta, encenadas no decorrer dos últimos anos pelo coletivo Cambada de Teatro em ação direta Levanta Favela.
Mas vários outros grupos e artistas já se aventuraram em explorar a dramaturgia de Zanotta, que tem muito de autobiográfica, mas também de um olhar crítico em torno do sistema opressor e de um apontamento para causas humanitárias. Antes de começar a escrever, ele foi jornalista do Diário de Notícias no período que cursava Filosofia (aos 20 anos), e se envolveu no movimento estudantil que lutava contra a ditadura. Em 1973, teve que deixar o País pela primeira vez. Voltou em 1976, e foi um dos fundadores do grupo teatral Ói Nóis Aqui Traveiz, em 1978.
Poucos anos depois, uma de suas peças foi interrompida pela repressão. Intitulada As Cinzas do General, escrita e dirigida por ele em 1980, a sátira sobre o regime militar teve problema com a censura da época. Durante nosso bate-papo, ele conta um pouco de toda a história e do contexto, bem como das consequências, com um exílio que o levou a percorrer a América Latina. Numa destas andanças, acabou se deparando com uma cena bizarra na Colômbia, dentre outras aventuras.
É muita história para contar, e o tempo não nos ajudou, pois uma hora é muito pouco para tanto, mas deu para ele aprofundar um pouco as inspirações para dois de seus títulos: O Apocalipse segundo Santo Ernesto De La Hihuera e Nietzche no Paraguai. Sobre Hino à Bandeira Com Galinha ao Molho Pardo, uma sátira político-erótica, sobre a usurpação dos atos cívicos por interesses espúrios, quem nos fala é o ator e diretor João de Ricardo da Cia Espaço em Branco, que gentilmente nos enviou um áudio.
Infelizmente, depois da fala de João de Ricardo, tivemos um problema técnico e nossa conversa com Zanotta acabou não indo ao ar durante uns dez minutos (pelo menos tem música boa ao fundo que segue no podcast). Mas, ao final do programa, já cientes do problema, e agora com o microfone ligado, a gente volta para encerrar com um breve relato de Zanotta sobre a coletânea que pode ser adquirida separadamente (livro a livro) ou em um lindo box.
Teve uma coisa, dentre as muitas que falamos (numa conversa interessantíssima), que ele destacou (mas acabou não indo ao ar) que é muito importante, por isso queremos deixar aqui como registro: um de seus ensaios, O Caralho Voador é uma autorreflexão sobre machismo. “Apesar do título e da história (em torno das aventuras do “rapaz” do caralho), é um livro que serve também para que possamos nos conscientizar do quanto a sociedade nos faz machistas, racistas e preconceituosos. E, só admitindo isso, podemos mudar esta atitude” (foi mais ou menos isso que ele disse… como não gravamos, estamos aqui reproduzindo a ideia).
Nome fundamental da literatura e das artes cênicas no Estado, Julio Zanotta, além de escrever, empreendeu na área: fundou a Livraria Ao Pé da Letra, em Porto Alegre, que chegou a manter filiais em Florianópolis e Curitiba. Também foi presidente da Câmara Rio-Grandense do Livro, sendo o responsável pela modernização da Feira do Livro de Porto Alegre, onde esteve à frente por quatro anos. Em 1998, recebeu o título de Cidadão Honorário da Capital gaúcha. Para entender um pouco da mente deste artista fundamental para a dramaturgia gaúcha, aperta o play e #excutanóix!
Por Adriana Lampert
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