Muitos me taxam de fanboy do cara. Defendo com unhas e dentes mesmo, mas não acredito que seja fanboyzisse. Se for, azar, porque o cara focou no que queria, com uma base que todos dariam tudo para ter e comeu quieto pelas beiradas. To falando do J.J. Abrams, o cara que hoje está sentado na cadeira em que todos os Nerds, Geeks, aficcionados por ficção ou cinema gostariam de estar. Ele está no meio das duas obras mais cultuadas da cultura pop ficcional e com certeza está se divertindo muito. Fico imaginando quando J.J. vai dormir e deita a cabeça no travesseiro, rindo sozinho de suas conquistas. É algo surreal, ter sob seu punho Star Trek e Star Wars, praticamente ao mesmo tempo. Se está estragando ou deixando melhor, não vem ao caso. O importante é o mérito da trajetória que o fez chegar lá.
J.J. Abrams começou a sua carreira cedo, com 12, 13 anos, como pupilo do pai do E.T. O cara simplesmente cresceu restaurando filmes em Super 8 do Steven Spielberg. Filmes pessoais, curtas que nunca vimos e nunca veremos. Arquivos valiosíssimos e inspiradores que só J.J. Abrams teve acesso e isso tudo o inspirou para tirar do papel o filme Super 8 em que os fãs assistem como uma obra autobiográfica com liberdade poética. Ele fez no Super 8 o que tarantino faz sempre, colocando experiências pessoas e referências de seu trabalho. Não existe melhor base para começar, analogicamente, com conteúdos crús e sem trucagens. O mistério começava a ser implantado como uma semente dentro do crânio.
J.J. Abrams adquiriu um dom que poucos tem: Pegar uma porcaria, adicionar uma pitada de suspense, enrolar até não poder mais e prender o espectador. Todo mundo tenta fazer isso, mas no final muito poucos conseguem. Lost e Cloverfield são os melhores exemplos disso.
A propósito, Lost é o melhor exemplo de uma bela porcaria consertada por J.J. Abrams. A ABC havia mandado seus roteiristas para uma ilha paradisíaca, com tudo pago, por alguns dias, com a contrapartida de que cada equipe deveria apresentar dois argumentos para um novo seriado. Só saiu encrenca. A melhor ideia era a de um acidente de avião em uma ilha onde os sobreviventes teriam que passar os dias....dias e mais dias. E ponto. Como outros filmes e seriados. Já no roteiro do episódio piloto se passava mais de um mês e nada acontecia além das pessoas se fudendo para sobreviver.
Os diretores da ABC viram algo aproveitável ali, e estavam satisfeitos com o trabalho do J.J. Abrams na sua primeira tentativa televisiva, Alias, e resolveram chamar o cara pra ver o que dava pra fazer. De última hora. A primeira coisa que ele disse foi "Falta mistério nisso daí". Como a produção do Alias estava tomando muito tempo do J.J. ele exigiu mais dois roteiristas para ajudá-lo, e assim começou o que conhecemos hoje como um dos maiores fenômenos de audiência da TV mundial. ABC com bolsos cheios e J.J. Abrams se destacando.
Não só de mistério é feito o portfolio do homem. Uma das características mais marcantes do trabalho dele é a criação dos personagens e o relacionamento interpessoal entre eles. Ele não cria personagens fechados. Cria a base e desenvolve de acordo com cada ator, mudando o enredo para se encaixar no cara já nas entrevistas de casting. Cloverfiled exemplifica isso. Uma obra de câmera na mão, bem editada, onde a edição abstrai o editor e coloca o poder na mão dos personagens. Tudo ocorre sem trilha sonora e o principal, o monstro, aparece apenas alguns segundos. O que vale é a situação e como os personagens a enfrentam, sem contar em todo o universo expandido criado em seus produtos cinematográficos. Gastei uma hora e meia assistindo ao filme, mas umas duzentas horas um ano antes, com teorias de conspirações ligadas a história do filme.
Que venha Cloverfield 2, Star Wars, mais Star Treks e tudo o que o cara tiver afim de produzir. Até VHS de casamento tá valendo.